sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Space Cake

Depois de um ano trabalhando para atlética, achamos que também poderíamos ganhar dinheiro com o knowhow das festas que fazíamos. Assim em 1997, Barney, Vitão, Sardinha, Anabol, Homem Pássaro, Pipi, Gigio, Guido, Lockinho, Carudo, Ursão, Fabinho, Cesinha, Faraó, Feijão, Beleza e eu, fizemos uma poupança, e na semana da pátria fomos para Búzios.

Não sei ao certo quanto arrecadamos, mas as provisões dariam para passar uma semana em um condomínio de luxo com tudo pago, se não fosse um imprevisto na ida, onde sentimos na pele como funciona a polícia do Rio de Janeiro...

Cansados e uns dois mil reais mais pobres, o primeiro dia foi de profunda depressão... eu ainda mais que os outros, pois acabava de me despedir da Mônica, com a certeza equivocada de que nunca mais a veria.

No meio da semana, nosso amigo Lipídio apareceu para completar a trupe.

Depois de um dia de praia, chegamos mortos de fome. No entanto, o Lock ainda não havia chegado com a carne para fazermos churrasco, e a única coisa que tínhamos, era uma massa de bolo Dona Benta e uvas.

Sardinha disse que sabia de uma receita de bolo de chocolate com uvas... e nós carinhosamente apelidamos de Space Cake!

Enquanto o bolo crescia, aquele cheiro inebriante associado a fome que estávamos, só aumentavam as nossas expectativas... e mal o bolo saiu da fornalha, atacamos sem pensar nas consequências... e o que era para ser a sobremesa, tornou-se o prato principal!

Beleza com seu violão e o Feija's no pandeiro, entoavam "A Novidade" do Gilberto Gil, enquanto nós fazíamos o backing vocal da versão mais longa que já existiu dessa música!

Meia hora depois e ainda sem carne para comer, não entendi a cara de preocupação do nosso mestre cuca...

Pensei, "será que o Sardinha prefere a versão dos Paralamas?!" e comecei a rir... rir sem parar... rir de doer a barriga... rir até deslocar a mandíbula!

Percebi que todos na roda também riam... Imaginei, "será que estão rindo do que pensei?! "Como é que leram meu pensamento?!"

Mas o som daquelas risadas se distorciam na mesma proporção em que minhas vistas se turvavam. Ao meu lado o Carudo (também conhecido como Quércia) provocava o vômito, e nessa altura, o Sardinha estava desesperado! Tentei acalmá-lo. Porém naquele instante era eu quem vomitava...

Alguém no outro lado da casa, em pânico, dizia que não sentia suas pernas... enquanto outra voz aterrorizada gritava que havia espíritos no jardim...

Enquanto o Pipi estalava incessantemente suas palmadas estridentes, tive um instante de lucidez para saber que tínhamos exagerado o bolo. Fui me deitar no caminhão, e quando fechei os olhos, ví várias bocas daquele gato de "Alice no País das Maravilhas" sorrindo para mim.

Não sei quanto tempo depois, acordei com mais fome do que fui me deitar. O cheiro da carne assando na brasa, apagaram quais quer mas lembranças do cheiro do bolo crescendo no forno.

Se não me engano, estavam o Lock, Fabinho, Faraó, Vitão, Barney e o Sarda´s ao redor da churrasqueira, o resto dos Kapetas ainda sofriam a indigestão do Cake.

Fui ver como estava meu amigo Arakem (o show man), e o descobri dormindo em posição fetal, bem próximo de onde tocava o seu pandeiro.

Felizmente, a indisposição estomacal de alguns, foi o que de mais grave aconteceu. Contudo, ainda tenho vontade de rir quando me lembro daquele dia.

Revendo as fotos daquela viagem, penso que tínhamos nossos anjos da guarda 24 horas de plantão!

Hoje, com paladar um pouco mais requintado, descobri que bolo de chocolate harmoniza com uvas moscato, garnache e malvasia, e que a espécie jamaicana pode ser indigesta.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Agosto de 1997

No mês de agosto na FAMEMA, era comum a vinda de alunos de intercâmbio.

Uma vez ficou em nossa república, Theodor. Um búlgaro de cabelo a la He-Man, que não tomava banho, ou pelo menos não como nós estávamos acostumados.

Respeitando os devidos costumes, entendo que o banho uma vez por semana na Bulgária, poderia ser suficiente. Mas em um país tropical como o nosso, sobretudo no mês de agosto em Marília, passar mais de um dia sem se duchar, não havia perfume francês que aguentasse!

Nunca me esqueço a indignação do Feijão contando, quando o convidou para passar um fim de semana em Araraquara, e as 2 únicas coisas que levou foram uma toalha de rosto e uma escova de dentes!

Outra vez, Belezinha, Cesinha e eu fomos buscar a Mônica em São Paulo, depois de nossa última despedida em Granada, e decidimos levar o gringo para conhecer a capital. Fomos a cinemas, museus, restaurantes... e depois de 2 dias, aquele cabelo loiro, escorrido e grudado, minaram qualquer chance de aproximação com alguma nativa. Fiquei com dó do Beleza e do Cesinha que viajaram com ele atrás na D20, os 500 Km de volta até Marília!

Entretanto, esta narrativa começa um ano antes, na aula de patologia, onde nos apresentaram Charo e Mônica. Eram duas espanholas da Universidade de Granada. A primeira era pior que Hefaísto, mas a segunda... era a encarnação de Venus... a divindade em pessoa!

Nestas horas o tempo urge, devida a concorrência... A dificuldade de comunicação foi o primeiro obstáculo, e quem já ouviu algum espanhol falando inglês, sabe o que digo! Decidi que seria mais eficaz o bom e velho portunhol!

Naquela época, os Titãs acabavam de lançar o acústico. E como bom anfitrião, não esperei para convidá-la para ir ao show. Só não considerei um fora por inteiro, porque a encontrei no ginásio da Unimar e percebi que ela também me mirava.

Contudo, o fora maior foi quando mandei flores e a convidei para me ver tocar no Alquimia! Nunca fui tão humilhado! A ingrata mal conversou comigo a noite toda... Fiquei tão arrasado, que no fim da noite viajei 300 km até a casa dos meus pais.

Mas alguma coisa fez aquele coração espanhol repensar seus maus tratos... tanto que num outro dia foi até minha república com a desculpa esfarrapada de trocar camisetas de faculdade! Menos mal que não tinha os mesmos hábitos do Theodor...

Mas a esta altura, o mês de agosto se findava juntamente com a temporada de estrangeiros. Em alguns dias, a viagem para Búzios programada desde o começo do ano com mais 20 Kapetas, concretizaria-se. Então, eu precisava me esforçar para aumentar a minha estúpida estatística...

Ledo engano! O sucesso do meu empenho só tornou mais amarga a despedida... Nem o space cake do Sardinha lá em Búzios, me fez esquecer aquela espanholinha. Por um bom tempo não pude escutar "Pra dizer Adeus" dos Titãs!

O Feijão dizia que 1994 havia sido o melhor ano da sua vida. Mas para mim, aquele mês de agosto de 1997, mudara para sempre a minha vida. E repensando na probabilidade dos fatos, eu jamais poderia imaginar, que aquela despedida fora na verdade, o início de vários reencontros...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Doce mais doce que o doce

Lembro-me que na república do Sardinha, tinha um quadro na sala que prestando atenção, era possível identificar gnomos camuflados entre a vegetação.

Respeitando as crenças de cada um, nunca dei a menor importância para alguns colegas que diziam acreditar nestas criaturinhas das florestas. Mas eu gostava de me sentar no chão daquela sala, relaxar e brincar de procurar gnomos (ou duendes para quem preferir).

Mas foi numa festa a fantasia, não a Fancanela, mas uma festa temática do 6º ano, que algo muito estranho aconteceu.

No início da semana, toda FAMEMA estava eufórica a procura de uma fantasia, e eu não queria mais repetir aquele velho disfarce de cirurgião. Sardinha disse que tinha uma fantasia que poderia me emprestar...

Nestas festas geralmente se bebe muito e não se come nada. Então procurei jantar bem, e para aumentar as reservas de gliclose, comi um brigadeiro super doce que o irmão do Barney trouxera dos Estados Unidos.

Vesti minha fantasia de grego e fui para a casa do Barney, onde alguns Kapetas combinaram de se encontrar antes da festa. Foi lá que coisas esquisitas começaram a acontecer.

Primeiro não entendi a cara de indignação de todos, quando perguntei porque as cervejas estavam em vasilhames de borracha?! Ainda não tinha sentido tão intensamente o gosto da cevada torrada sob a língua e do lúpulo amargando a boca, como naquela noite...

No caminho da festa, escutando "Aeroplane" do Red Hot, as linhas de baixo do Flea, nunca ficaram tão nítidas... mas foi na festa que o inesperado aconteceu!

O jardim da cháracara estava repleto de gnomos! Gnomos de todos os tipos... gnomos que pareciam arbustos, gnomos gigantescos parecidos com palmeiras, gnomos disfarçados de anõezinhos da Branca de Neve (estes últimos percebi mais tarde que eram o Avaré, Waltinho, Japa, Dú e Paraíba...).

Foi então que tive consciência que estava sob os efeitos da hiperglicemia, e aos poucos fui me acostumando com aquelas imagens.

Lá pelas tantas, a fila do banheiro estava imensa e então fui ao jardim eliminar o excesso de cerveja. Encontrei o Gabriel voltando daquele lugar aterrorizado... "BG! não vá até lá que está cheio de duendes!!!!".

"Pobre coitado", pensei eu, "também deve estar com hiperglicemia...". 

Mas aquelas criaturinhas estavam tão quietinhas que não tive dúvidas em derramar todo o líquido da minha bexiga sobre suas cabeças... e ali continuaram, sem se mexer.

Enquanto o sol nascia, os duendes pareciam mais arbustos que duendes (lembrei do quadro da casa do Sardinha... "Então é assim que eles se escondem!?").

Ví o Bandite correndo sozinho pela chácara... "Nossa! O Gabriel, ficou tão assustado que até esqueceu seu cachorro", intuí.

Coloquei o Bandite na D 20, e não me lembro por qual motivo paramos na casa da Lied e da Débora. Era uma casa de 2 andares devido a topografia do terreno. A garagem ficava no andar de cima, junto com os cômodos da casa, e embaixo e nos fundos, ficava o quintal integrado a uma pequena área de serviço.  O Bandite saiu correndo em direção ao fundo da garagem e saltou uma pequena mureta de proteção, caindo de uma altura de uns 3 metros.  

Imaginei, "será que o Bandite roubou algum brigadeiro Barney!?". Felizmente, nem mancando ele ficou...

Mais tarde, já em casa e sem as chaves, chamei incessantemente o Feijão para que abrisse a porta, e graças ao Anabol que passava por ali, viu que meu cotovelo sangrava e me levou ao PS, onde ele mesmo deu 7 pontos para fechar a ferida.

Graças a Deus, não me tornei diabético! Depois daquela noite, aboli o açúcar da minha vida... e coincidência ou não, também nunca mais vi gnomos (a não ser o Avaré e o Japa, onde ainda os vejo umas duas vezes ao ano). E se alguém me disser que estes seres das florestas existem, a primeira coisa que penso é que deveria fazer um teste de glicemia...

domingo, 10 de outubro de 2010

Década de 90

Em 1993, a FAMEMA iniciava a sua XXVII turma, e Marília, apesar das várias outras faculdades, ainda tinha ares de cidadezinha do interior.

Me lembro que na Rio Branco tinha o Kaina Naight e o 515, e nós da FAMEMA, bairristas e quase anti-sociais, preferímaos fazer festas em nossas Repúblicas. E nisso a VARANDA era campeã!

Iniciamente éramos o Bozó, Japa, Ramiro e eu, mas depois vieram o Feijão, Guido e Rogério. A casa ficava na São Luiz esquina com a José de Anchieta, em cima do Açougue. Por não termos vizinhos, algumas festas duravam dias... Difícil foi explicar ao Dr. Othon e ao Zigomar as 25 caixas de cervejas vazias empilhadas na cozinha depois de uma destas festas, quando fizeram uma visita surpresa!

Mais tarde, uns alunos da Veterinária resolveram montar um quiosque no meio do pasto, onde escutavam música sertaneja e vendiam cerveja... Esse lugar ficou conhecido como Todo Torto, uma das primeiras megafestas daquela época que durava uma semana! Até comprei uma botina para sair... Aqueles caras do Todo Torto ganharam tanto dinheiro que depois montaram uma boate na avenida Rio Branco chamada Coronel Cachaça!

Mas foi em 1996 que as coisas ficaram mais interessantes na FAMEMA. O Barney assumiu a atlética. A primeira coisa que fez foi desmembrar o DACA e a Atlética. O Bar do DACA virou Bar da Atlética e o JB se incumbiu da arte final. Surgiam as primeiras chopadas... e a Atlética começava a se organizar.

Também acabamos com os jogos de interclasses. A rivalidade entre algumas turmas desunia nossa querida FAMEMA, e para chegar na elite dos jogos, isso era o que menos precisávamos.

As festas da Atlética se popularizaram de tal maneira, que de simples "happy hour", passaram a ter a conotação de balada. E nós, Esculápius, quase sempre estávamos lá para animar...

Assim começávamos a sair do nosso isolamento introspectivo para uma participação mais ativa nos eventos sociais universitários da cidade.

Uma vez trouxemos os Raimundos, quando o Rodolfo ainda era vocalista, para tocar em Marília. O Digão subiu no palco e tocou com a bata da Atlética. E depois do show, os caras foram conosco no Alquimia...

Alguns meses mais tarde, lembro-me da primeira Festa a Fantasia, que no início era num Pesque e Pague e depois passou para a EXAMAR. Tinha também a Festa do Buraco Loco, onde o Sorocaba, além de perder a carteira, quase morreu atropelado por dormir de baixo de um carro estacionado... E por que não falar da Festa da Bupivacaína na chácara do Bicudo, onde jamais poderia imaginar que aquela espanhola do intercâmbio um dia se tornaria minha esposa!

E no mesmo rítimo das mega festas, Marília se transformava... e já no final dos anos 90, aquele aspecto de cidadezinha do interior, aparecia nos finais de semana ou no período de férias. Ainda bem que tínhamos o Companhia Natural e o Alquimia...

Não sei se estes lugares ainda existem, e seria muita ingenuidade minha imaginar que a FAMEMA ainda é a mesma daquela época. Não poderia ser a mesma porque nós éramos a FAMEMA daqueles tempos, e hoje somos o que nos propusemos quando fomos estudar naquela cidade, tornamo-nos médicos... maridos e pais!